PERÍODOS DA LITERATURA - SIMBOLISMO

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No final do século XIX, ocorreu o movimento literário denominado Simbolismo.
Os Simbolistas, insatisfeitos com a onda de cientificismo e materialismo a que esteve submetida a sociedade industrial européia na segunda metade do século passado, representam a reação da intuição contra a lógica, do subjetivismo contra a objetividade científica, do misticismo contra o materialismo, da sugestão sensorial contra a explicação racional.


O Simbolismo representa uma negação, portanto, ao materialismo, do positivismo, do determinismo e outras atitudes científico-filosóficas que embasaram a estética Realista/Naturalista/Parnasiana. É, por outro lado, um retorno ao subjetivismo romântico, ao predomínio do "eu", da imaginação e da emoção, ainda de modo mais profundo e radical. É também uma volta à atitude conflitual tensa do Barroco e ao espiritualismo e religiosidade da era medieval.

Para saber mais sobre o Simbolismo sugere-se: conhecer a obra de pintores impressionistas e pós-impressionistas como Renoir, Manet, Cézanne, Van Gogh, Gaughin, Toulouse-Lautrec e Klimt; ouvir a música de Claude Debussy e pesquisar sobre as relações entre o Simbolismo e o Romantismo, principalmente a 2° geração da poesia romântica e a tendência gótica.

A linguagem da música.

Nenhuma arte é inteiramente objetiva. Até uma fotografia, por exemplo, que se aproxima bastante da realidade, depende da seleção que o fotógrafo faz: o que fotografar, de que ângulo, a que distância, com que luz, em que momento. Essas variantes estão sujeitas às intensões do fotógrafo; são, portanto, subjetivas e podem modificar o resultado final, a foto.

Os simbolistas não acreditavam na possibilidade de a arte e a literatura poderem fazer um retrato total da realidade. Duvidavam também das explicações "positivas" da ciência, que julgava poder explicar todos os fenômenos que envolvem o homem e conduzi-lo a um caminho de progresso e fartura material.


Assim, os simbolistas representam um grupo social que ficou à margem do cientificismo do século XIX e que procurou resgatar certos valores românticos varridos pelo Realismo, tais como o espiritualismo, o desejo de transcendência e de integração com o universo, o mistério, o misticismo, a morte, a dor existencial (sem, contudo, cair na afetação sentimental romântica.)

A ciência, até a pouco dona da verdade, passa a ser questionada, impondo um forte desencanto, pois à ela, que a tudo enquadrava nuna forçada relação de causalidade, mostrava-se impotente, deixando incocadas as grandes questões da vida, que continuavam como um profundo mistério. É exatamente esse mistério que vai seduzir alguns filósifos e artistas desse período, na busca, muitas vezes, de um modo supra-racional de conhecimento. Este caminho é o "coração" de Pascal ("O coração tem razões que a própria razão desconhece") e logo será, para muitos pensadores, a "intuição", ou aquilo que, há muito tempo, têm experimentado os místicos, sem nenhuma explicação concreta e provável.

Essa reação antimaterialista situa-se num contexto mais amplo da vivido pela Europa no último quarto do século XIX, a forte crise espiritual a que sem tem chamado de decadentismo do final do século, ou ainda mal do século.

Conceito

O símbolo sempre existiu na Literatura, mas somente no século XIX é que seu emprego se difundiu e se tornou moda com a denominação de Simbolismo.

Restringindo-nos a um ciclo histórico mais próximo, verificamos que o Simbolismo deita raízes no Romantismo e que alguns ideais românticos, sobretudo os mais vagos, tiveram que aguardar o Simbolismo para realizar-se de forma mais ampla. Nesse sentido, o Simbolismo para realizar-se de forma mais ampla. Neste sentido, esse movimento pode ser considerado um prolongamento ou uma etapa mais avançada da concepção do mundo e dos homens inaugurada pelos românticos, transfigurando-a e levando-a às últimas consequências. Em suma, o Simbolismo só se compreende quando inscrito no contexto sócio-cultural decorente da Revolução Francesa e da implantação das doutrinas romântico-liberais.

Contrariamente aos românticos, os simbolistas propuseram que "a poesia não é somente emoção, amor, mas a tomada de consciência desta emoção; que a atitude poética não é unicamente afetiva, mas ao mesmo tempo afetiva e cognitiva". Por outras palavras, a poesia carrega em si uma certa maneira de conhecer.

Na busca do "eu profundo", os Simbolistas iniciam uma viagem interior de imprevisíveis resultados, ultrapassando os níveis de razoabilidade em que, afinal de contas, se colocavam os românticos, mesmo os mais descabelados e furiosos.

Imergindo nas esferas inconscientes, acbaram por atingir os estratos mentais anteriores à fala e à lógica, tocando o universo íntimo de cada um, onde reina o caos e a anarquia, em decorrência de ali vegetare as vivências vagas e fluídas, pré-lógicas e inefáveis, e que não se revelam ao homem comum senão por recursos indiretos como o sonho, a alucinação ou a psicanálise.

Mais do que tocar os desvãos do inconsciente, pretendiam sentí-los, examiná-los.

O problema mais difícil era o de como transportar as vivências abissais para o plano no consciente a fim de comunicá-las a outrem. Como proceder? Como exprimi-las? Como represent-alas sem esvaziá-las ou destruí-las? A gramática tradicional, a sintaxe lógica, o vocabulário comum, petrificado nas várias denotações de dicionário, enfim o material linguístico e gramatical corriqueiro eram insuficientes para comunicar os achados insólitos da sensibilidade, antes desconhecidos ou apenas inexpressos.

Era necessário inventar uma linguagem nova, recuperando expressões consideradas obsoletas, ivificando outras cujo lastro semântico ia sofrendo desgaste ou cristalização. Essa nova linguagem estaria fundamentada numa sintaxe e gramática "psicológicas", num vocabulário adequado à comunicação de novidades estéticas, pela recorrência a neologismos, inesperadas combinações vocabulares, emprego de arcaísmos e de termos exoóticos ou litúrgicos, e ainda de recursos gráficos de várias ordens (o uso de maiúsculas alegórizantes, das cores na impressão dos poemas ou partes de livros, de formas arcaicas, etc...)

Trata-se pois de uma revolução da expressão literária e, não obstante conectado com as outras artes, o Simbolismo é antes e acima de tudo Literatura e nenhuma escola foi mais literária, no sentido de "uma estética que se aproximou de pura, vacinada contra todo o contátio nõa estético, ou que, sendo estético, atentasse contra suas prerrogativas literárias. (Massaud Moisés, "O Simbolismo", A literatura Brasileira, vol. IV, Cultrix, SP, 1973).

Poesia Simbolista - Características

Como movimento antimaterialista e anti-racionalista, o Simbolismo buscou uma linguagem que fosse capaz de sugerir a realidade, e não retratá-la objetivamente, como queriam os realistas. Para isso, faz uso de símbolos, imagens, metáforas, sinestesias, além de recursos sonoros e cromáticos, tudo com a finalidade de exprimir o mundo interior, intuitivo, antilógico e anti-racional. Podem ser encontrados esses traços em poetas e pensadores pré-Simbolistas, que acabaram por dar as origens dessa escola. São eles:

Charles Baudelaire

Poeta francês pós-romântico e precursor do movimento simbolista, para quem a poesia é a expressão da correspondência que a linguagem é capaz de estabelecer entre o concreto e o abstrato, o material e o ideal. Coube a ele desmistificar a poesia, trazendo-a para o plano do homem já então angustiado por uma existência sem deuses ou mitos válidos. Sua poesia satânica, irreverente e cáustica, impulsionada por uma ânsia trágica de libertação e narcisamento, influenciou nõa só o âmbito ético-literário, mas revolucionou o próprio campo da expressão, graças à sua Teoria das Correspondências, expressa no trecho abaixo.

Como longos ecos que de longe se confundem
numa tenebrosa e profunda unidade.
Vasta como a noite e como a claridade,
os perfumes, as cores e os sons se correspondem.

A Teoria das Correspondências porpõe um porocesso cósmico de aproximação entre as realidades físicas e as metafísicas, entre os seres, as cores, os perfumes e o pensamento ou a emoção, que se expressa através da Sinestesia, um tipo de metáfora, que consiste na tranferência (ou "cruzamento") de percepção de um sentido para outro, ou seja, a fusão, num só ato de percepção, de dois sentidos ou mais. É o que ocorre em "ruído aspero" (audição e tato); "música doce" (audição e gustação); "som colorido" (audição e visão); "noite de veludo" (visão e tato).

Essas correspondências entre os campos sensorial e espiritual envolvem obrigatoriamente a sinestesia. Sinestesia é o cruzamento de campos sensoriais diferentes: por exemplo, tato e visão, como nas imagens "noite de veludo", "amarelo quente", "cinza frio".

Em termos de ideologia, o Parnasianismo e o Simbolismo são movimentos diametralmente opostos, já que aquele pregava uma poesia objetiva, racionalista, e voltada a temas universais. Apesar disso, ambos apresentam em comum uma preocupação intensa com a linguagem e certo refinamento formal. Isso talvez possa ser explicado pelo fato de ambas as tendências terem nascido juntas, na França, na revista Parnasse Contemporain, em 1866. Cruz e Souza, o principal simbolista brasileiro, apresenta influências parnasianas em alguns de seus poemas.

Linguagem simbolista - Características

As características da linguagem simbolista podem ser assim esquematizadas:

Linguagem vaga, fluida, que prefere sugerir a nomear. Utilização de substantivos abstratos, efêmeros, vagos e imprecisos

Presença abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, paronomásias, sinestesias

Subjetivismo e teorias que voltam-se ao mundo interior

Antimaterialismo, anti-racionalismo em oposição ao positivismo

Misticismo, religiosidade, valorização do espiritual para se chegar à paz interior

Pessimismo, dor de existir


Desejo de transcendência, de integração cósmica, deixando a matéria e libertando o espírito

Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte, assim como momentos de transição como o amanhecer e o crepúsculo

Interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana (o inconsciente e o subconsciente) e pela loucura.

Observação: Na concepção Simbolista o louco era um ser completamente livre por não obedecer às regras. Teoricamente o poeta simbolista é o ser feliz.

Contexto histórico

O movimento simbolista surge no último quarto do século XIX, na França, e representa a reação artística à onda de materialismo e cientificismo que envolvia Europa desde a metade do século.

Tal qual o Romantismo, que reagiria contra o racionalismo burguês do século XVIII (o Iluminismo), o Simbolismo rejeita as soluções racionalistas, empíricas e mecânicas trazidas pela ciência da época e busca valores ou ideais de outra ordem, ignorados ou desprezados por ela: o espírito, a transcendência cósmica, o sonho, o absoluto, o nada, o bem, o belo, o sagrado dentre outros.

A origem dessa tendência espiritualista e até mística situa-se nas camadas ou grupos da sociedade que ficaram à margem do processo de avanço tecnológico e científico do capitalismo do século XIX e da solidificação da burguesia no poder. São setores da aristocracia decadente e da classe média que, não vivendo a euforia do progresso material, da mercadoria e do objeto, reagem contra ela. Propõem a volta da supremacia do sujeito sobre o objeto, rejeitanto desse modo o desmedido valor dado às coisas materiais.

Assim, os simbolistas procuraram resgatar a relação do homem com o sagrado, com a liturgia e com os símbolos. Buscam o sentimento de totalidade, que se daria numa integração da poesia com a vida cósmica, como se ela, a poesia, fosse uma religião.

Sua forma de tratar a realidade é radicalmente diferente da dos realistas. Não aceitam a separação entre sujeito e objeto ou entre objetivo e subjetivo. Partem do princípio de que é impossível o retrato fiel do objeto; o papel do artista, no caso seria o de sugeri-lo, por meio de tentativas, sem querer esgotá-lo. Desses modo, a obra de arte nunca é perfeita ou acabada, mas aberta, podendo sempre ser modificada ou refeita.

Os malditos

Essa concepção da realidade e da arte trazida pelos Simbolistas suscita reações entre setores positivistas da sociedade. Chamados de malditos ou decadentes, os simbolistas ignoram a opinião pública, desprezam o prestígio social e literário, fechando-se numa quase religião da palavra e suas capacidades expressivas.

O Simbolismo

Com as propostas de inovação, oposição e pesquisa trazidas pela geração de Verlaine, Rimbaud e Mallarmé - não sobrevive muito. O mundo presencia a euforia capitalista, o avanço científico e tecnológico. A burguesia vive a belle époque, um período de prosperidade, de acumulação e de prazeres materiais que só terminaria com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.

Nesse contexto, o Simbolismo desaparece. Mas deixa ao mundo um alerta sobre o mal-estar trazido pela civilização moderna e industrializada, além de códigos literários novos, que abrirão campo para as correntes artísticas do século XX, principalmente o Expressionismo e o Surrealismo, também preocupados com a expressão e com as zonas inexploradas da mente humana, como o inconsciente e a loucura.

O Simbolismo no Brasil

Ao contrário do que aconteceu na Europa, onde o Simbolismo se sobrepôs ao Parnasianismo, no Brasil o Simbolismo foi quase inteiramente abafado pelo movimento parnasiano, que gozou de amplo prestígio entre as camadas cultas até as primeiras décadas do século XX. Apesar disso, a produção simbolista deixou contribuições significativas, preparando terreno para as grandes inovações que iriam ocorrer no século XX, no domínio da poesia.

As primeiras manifestações simbolistas já eram sentidas desde o final da década de 80 do século XIX. Apesar disso, tradicionalmente se tem apontado como marco introdutório do movimento simbolista brasileiro a publicação,. Em 1893, das obras Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de nosso maior simbolista: Cruz e Souza.

Além de Cruz e Sousa, destacam-se, dentre outros, Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkerry (recentemente descoberto pela crítica).

Cruz e Sousa: O Cavador do Infinito

Cruz e Sousa (1862 - 1898), filho de escravos, foi amparado por uma família aristocrática, que o ajudou nos estudos. Ao transferir-se para o Rio, sobreviveu trabalhando em pequenos empregos e sempre foi alvo do preconceito racial. Na juventude, teve uma grande decepção amorosa ao apaixonar-se por uma artista branca. Acabou casando-se com Gravita, uma negra, que mais tarde ficaria louca. De quatro filhos que o casal teve, apenas dois sobreviveram. Cruz e Souza morreu com 36 anos, vítima de tuberculose. Suas únicas obras publicadas em vida foram Missal e Broquéis.

Hoje Cruz e Souza é considerado o mais importante poeta simbolista brasileiro e um dos maiores poetas nacionais de todos os tempos. Seu valor, contudo, só foi reconhecido postumamente, depois que o sociólogo francês Roger Bastide colocou-o entre os maiores poetas do Simbolismo universal. Sua obra apresenta diversidade e riqueza. De um lado, encontram-se aspectos noturnos do Simbolismo, herdados do Romantismo: o culto da noite, certo satanismo, pessimismo, morte, etc. Observa-se algumas dessas características nesses versos do poema "Inexorável":

Ó meu Amor, que já morreste,
Ó meu Amor, que morta estás!
Lá nessa cova a que desceste
Ó meu Amor, que já morreste,
Ah! Nunca mais florescerás?

Ao teu esquálido esqueleto,
Que tinha outrora de uma flor
A graça e o encanto do amuleto
Ao teu esquálido esqueleto
Não voltará novo esplendor?

De outro lado, há certa preocupação formal que o aproxima dos parnasianos: a forma lapidar, o gosto pelo soneto, o verbalismo requintado, a força das imagens; de outro, ainda, a inclinação à poesia meditativa e filosófica, que o aproxima da poesia realista portuguesa, principalmente de Antero de Quintal.


A forma encontrada pelos Simbolistas de suspender a dor seria a música. Daí advém a tentativa de produzir textos tão melodiosos e ritmados. Um exemplo claro é um dos mais belos textos de Cruz e Sousa. Ao le-lo, deve-se ficar atento à musicalidade das palavras e construções.

Violões que choram...
Cruz e Souza

Ah! plangentes violões dormente, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites de solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram
Gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos
São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Para onde vão, fatigadas do sonho,
Almas que se abismaram no mistério.
Poesia metafísica e dor de existir

Juntamente com o poeta realista português Antero de Quental e o pré-modernista brasileiro Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa apresenta uma das poéticas de maior profundidade em língua portuguesa, quanto à investigação filosófica e à angústia metafísica.

O drama da existência, em sua obra, revela uma provável influência das idéias pessimistas do filósofo alemão Shopenhauer, que marcaram o final do século passado. Além disso, certas posturas de sua poesia - o desejo de fugir da realidade, de transcender a matéria e integrar-se espiritualmente no cosmo - parecem originar-se não apenas do sentimento de opressão e mal-estar trazido pelo capitalismo, mas também pelo drama racial e pessoal que vivia.

A trajetória de sua obra parte da consciência e da dor de ser negro, em Broquéis, à dor de ser homem, em busca da transcendência, em Faróis e Últimos sonetos, obras póstumas. Observa-se a dor existencial por exemplo, em versos de "Cárcere de Almas":

Ah! Toda alma num cárcere anda presa
Soluçando nas trevas entre as grades
Do calabouço olhando imensidades
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço atroz, funéreo!
As características mais importantes da obra de Cruz e Sousa são


No plano temático: a morte, a transcendência espiritual, a integração cósmica, o mistério, o sagrado, o conflito entre a matéria e espírito, a angústia e a sublimação sexual, a escravidão e uma verdadeira obsessão por brilhos e pela cor branca ("Ó Formas alvas, brancas, Formas claras / De luares, de neves, fluídas, cristalinas....").
No plano formal: destacam-se as sinestesias (cruzamento de campos sensoriais diferentes: tato e visão como em "noites de veludo ou visão e olfato como "cheiro das cores"), as imagens surpreendentes, a sonoridade das palavras, a predominância de substantivos e utilização de maiúsculas, com a finalidade de dar um valor absoluto a certos termos.

Alphonsus de Guimaraens

Alphonsus de Guimaraens (1870 - 1921) nasceu em Ouro Preto, estudou Direito em São Paulo e foi durante muitos anos juiz em Mariana, cidade histórica, vizinha de Ouro Preto.

Marcado pela morte da prima Constança - a quem amava e contava apenas 17 anos -, sua poesia é quase toda voltada ao tema da morte da mulher amada, que aconteceu apenas dois dias antes de seu casamento. Todos os outros temas que explorou, como natureza, arte e religião, estão de alguma forma relacionados àquele. A exploração do tema da morte abre ao poeta, por um lado, o vasto campo da literatura gótica ou macabra dos escritores ultra-românticos, recuperada por alguns simbolistas; por outro lado, possibilita a criação de uma atmosfera mística e litúrgica, em que abundam referências ao corpo morto, ao esquife, às orações, às cores roxa e negra, ao sepultamento, conforme exemplifica a estrofe a seguir:

Mãos de finada, aquelas mãos de neve
De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve
Que parece ordenar mas que suplica.

O conjunto da poesia de Alphonsus de Guimaraens é uniforme e equilibrado. Temas e formas se repetem e se aprofundam, no decorrer de quase trinta anos produção literária, consolidando uma de nossas poéticas mais místicas e espiritualistas.

O crítico Alfredo Bosi considera que "de Cruz e Sousa para Alphonsus de Guimaraens sentimos uma descida de tom", isto porque a universalidade, a dor da existência e as sensações de vôo e vertigem que caracterizam a linguagem simbolista de Cruz e Sousa ganham limites mais estreitos na poesia de Alphonsus de Guimaraens, presa ao ambiente místico da cidade de Mariana e ao drama sentimental vivido na adolescência.

Formalmente o poeta revela influências árcades e renascentistas, sem contudo, cair ao formalismo parnasiano. Embora preferisse o verso decassílabo, Alphonsus chegou a explorar outras métricas, particularmente a redondilha maior, de longa tradição popular, medieval e romântica.

Fontes Filosóficas seguidas pelo Simbolismo

Como já foi dito, o Simbolismo representou uma negação do materialismo, do Positivismo e do Determinismo, ou seja, das atitudes científico-religiosas dos estilos Naturalista e Realista.

É também uma volta à atitude conflitual e tensa do Barroco e ao espiritualismo da Idade Média.

O Simbolismo seguiu algumas correntes filosóficas em voga no fim do Século XIX. São elas:

Intuicionismo, por Henry Bergson

Tinha como objetivo a busca de novas realidades interiores. No entanto, essas realidades interiores, o "eu" profundo, serão praticamente incomunicáveis, por constituirem um mundo extremamente vago, complexo e corrompido à simples tentativa de ser traduzido em palavras, já que a própria consciência e natureza dessas realidades são irredutíveis à fala, colocando-se fora de todo controle do pensamento e da razão.

Os poetas apelam então para a evocação, para a sugestão, a fim de buscar a tradução do "eu" profundo. Apenas sugere os conteúdos sentimentais e emotivos, sem narra-los ou descreve-los.

Bergson reconhece porém que a maioria dos homens vive apenas num "eu" de superfície, atravessando a existência sem jamais experimentar a verdadeira liberdade, que só seria alcançada ao romperem-se as barreiras da moral e da religião.

Teorias de Arthur Schopenhauer

Em "O Mundo Como Vontade e Representação", Schopenhauer afirma que por mais maciço e imenso que seja este mundo, sua existência depende, em qualquer momento, apenas de um fio único e delgadíssimo: a consciência em que aparece. Assim, para o autor, o mundo não passa de uma representação, ou melhor, é igual à nossa percepção. Por isso, não chegamos jamais à essência em si, ao Absoluto.

Por outro lado, o espírito ou a nossa psiquê corresponde à vontade, e essa é que seria real. Isto significaria dizer que no fundo de todo ser ou coisa viveria a vontade. A filosofia do autor sustenta ainda que o real em si é mesmo cego e irracional, enquanto vontade. As formas racionais não passariam de ilusórias aparências e a essência de todas as coisas estaria alheia à razão.

Há nessa teoria um pessimismo extremo, já que a vontade é sem meta e gera dor. A felicidade seria apenas uma interrupção temporária de um processo de infelicidade maior, pois não existiria satisfação durável. Em suma: viver significaria sofrer.

Teorias de Soren Kierkegaerd

Definem o homem como uma síntese de infinito e finito; de temporal e eterno; de liberdade e de necessidade. Kierkegaerd entende que qualquer opção do ser humano conduz ao desespero pela impossibilidade de conciliar a finitude e a infinitude; a transcendência e a existência.

Filosofia oriental

De acordo com essa filosofia, a forma mais completa de salvação para o homem estaria na renúncia ao mundo e suas solicitações, na mortificação dos instintos, na auto-anulação da vontade e na fuga para o nada, para o nirvana dos filósofos budistas.

Teorias de Nicolal Von Hartamn

Em sua Teoria do Inconsciente, Von Hartamn cria o inconsciente, entidade desconhecia que existe por trás de tudo e que é totalmente inalcançável.

O inconsciente daria explicação aos fenômenos, mas essa explicação não chegaria ao conhecimento do homem. O sentimento de impotência diante do enigma do Universo, essa incógnita, gera o pessimismo.

Resumo das características do Simbolismo

Conteúdo relacionado com o espiritual, o místico e o subconsciente: idéia metafísica, crença em forças superiores e desconhecidas, predestinação, sorte, introspecção.

Esse maior pelo particular e individual do que pelo geral e Universal: valorização máxima do eu interior, individualismo.

Tentativa de afastamento da realidade e da sociedade contemporânea:

valorização máxima do cosmos, do misticismo, negação à Terra. Os textos comumente retratam seres efêmeros (fumaça, gases, neve...). Imagens grandiosas (oceanos, cosmos...) para expressar a idéia de liberdade.

Conhecimento intuitivo e não-lógico.

Ênfase na imaginação e na fantasia.

Desprezo à natureza: as concepções voltam-se ao místico e sobrenatural.

Pouco interesse pelo enredo e ação narrativa: pouquíssimos textos em prosa.

Preferência por momentos incomuns: amanhecer ou entardecer, faixas de transição entre dia e noite.


Linguagem ornada, colorida, exótica, bem rebuscada e cheia de detalhes: as palavras são escolhidas pela sua sonoridade, num ritmo colorido, buscando a sugestão e não a narração.

Fonte:geocities.com.br

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