Nascido na cidade de Itabira-MG no ano de 1902, o poeta Carlos Drummond de Andrade teve uma trajetória intelectual um tanto conturbada, ora interrompida pela enfermidade, ora suspensa por uma suposta indisciplina mental, quando foi expulso de uma escola do município de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.
Parece que sua jornada literária já estava traçada nos planos divinos, em 1925 foi graduado em Farmácia, quando atuava como redator do Diário de Minas e tinha suas conexões com os integrantes do Modernismo paulista. Foi justamente na Revista de Antropofagia que ele se aventurou, pela primeira vez, nos caminhos da poesia, em 1928, com o célebre poema ‘No meio do caminho’.
Porém, não se pode classificar o poeta como modernista, embora ele tenha sido profundamente influenciado pelo legado desta escola literária, principalmente no que tange à autonomia da linguagem, aos versos e metros livres, aos temas extraídos da vida corriqueira. Drummond, porém, transcende estas qualidades, e sua obra atinge um grau de isolamento que o distancia do contexto histórico no qual vive. O leitor não encontrará, em seus poemas, sólidos marcos ou sinais de vida ideológica.
Suas criações não se moldam a categorias rígidas ou a teorias asfixiantes, o principal caminho de compreensão da sua obra é a leitura de seus poemas. Desta forma será possível encontrar os fatos rotineiros, as atitudes e cenários singelos, matéria-prima com a qual o autor elabora sua poesia. O resultado desta gestação poética são poemas curtos como ‘Construção’ ou longos, como ‘O caso do vestido’.
Estudiosos como Affonso Romano de Sant’ana, identificam nos poemas de Drummond uma marca irônica, quando seu eu se revela maior que o mundo; uma poesia de cunho social, sempre que o eu se apresenta menor que o universo no qual habita; e a poética metafísica, fruto da igualdade entre o eu e seu contexto.
Para se entender alguns aspectos da poesia do autor, é preciso ter em mente que ele viveu a era marcada pelo desenrolar da Segunda Guerra Mundial e vivenciou o momento pós-guerra, caracterizado essencialmente pela tensão constante da Guerra Fria, pela soberania do capitalismo e pelo emergir de inúmeros governos totalitários.
Tal contexto explica o recorrente questionamento sobre o significado da existência, a insistente lembrança da repressão que simboliza esta época, a advertência explícita dos desdobramentos da política nazi-fascista, o pessimismo de sua visão de mundo. Elementos como estes estão presentes em obras como Sentimento do Mundo, de 1940, e A Rosa do Povo, de 1945.
Em dois momentos distintos, Drummond volta ao passado: nas primeiras publicações ele recorre à ironia como uma forma de expressar sua trajetória recente, centrada principalmente em Itabira, sua saudosa terra natal, o primeiro ambiente cultural e sentimental. Em suas produções posteriores o poeta se baseia nas memórias distantes, vistas sob um novo ângulo interpretativo; a abordagem é então afetiva, despojada da antiga verve irônica. Em fins dos anos 80, em outra guinada em sua última fase de criação, desta vez o interesse de Drummond gira em torno do erotismo.
Fonte:culturabrasilpro.br