DIA DO EDUCADOR AMBIENTAL - 15 DE OUTUBRO - Sustentabilidade - Meio ambiente - Agenda 21

Desde a Revolução Industrial, o meio ambiente tem sido profundamente modificado pelas atividades humanas. Vários fatores negativos podem ser observados, apesar da melhoria das condições de vida da população, em decorrência dessa evolução tecnológica. Dentre esses fatores, destacam-se a explosão demográfica e a concentração crescente da ocupação urbana que, consequentemente, acarretam um aumento do consumo e de utilização de insumos e matériasprimas.

Em locais em que moravam alguns grupos consumidores de escassa qualidade de água, produzindo poucos detritos, hoje vivem milhares, o que exige a manutenção de imensos mananciais e gera toneladas de resíduos por dia. Isso se reflete na degradação ambiental e, portanto, na manutenção do planeta e na própria sobrevivência do homem.

Diante desse cenário, Vilhena e Politi (2000, p. 5) afirmam que “[...] a maioria dos problemas ambientais que hoje ocorrem no mundo poderia ter sido evitada se a educação ambiental e a conseqüente conscientização ecológica fizessem parte das preocupações das sociedades desenvolvidas, desde a revolução industrial”.

Os projetos de educação ambiental e de planejamento urbano deveriam sempre ser precedidos de estudos de percepção e comportamento socioambiental da população envolvida. Porém, há ainda uma lacuna nesse sentido, especialmente, porque os métodos para a quantificação da percepção são pouco discutidos e, mesmo em pesquisas bibliográficas, são pouco encontrados.

Há um esforço, por parte dos especialistas da área, em propor alternativas, sobretudo, em sugerir o debate das questões voltado ao que é /ou tem sido o papel do educador ambiental na atualidade.

Essas razões levaram à escolha do assunto “Educador Ambiental: Ser ou não ser, eis a questão!” para este artigo, no desejo de que ele seja uma contribuição para o início da discussão do tema por profissionais que lidam diretamente no contexto formal e/ou não-formal da Educação Ambiental.

DESENVOLVIMENTO

Didaticamente é preciso entender o que é Educação. De acordo com o Novo Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999, p. 719): “Educação, [Do lat. educatione.] Substantivo feminino. Ato ou efeito de educar (-se). Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social”.

A educação, segundo Freire (1987), é libertação. Nessa concepção, o conhecimento parte da realidade concreta do homem e este reconhece o seu caráter histórico e transformador. A concepção de educação de Paulo Freire percebe o homem como um ser autônomo.

Diferentemente da visão capitalista de mercado, na qual as pessoas são meros objetos de manipulação dos detentores do poder e, por isso, são vistas como ‘coisas’ que não pensam, não dialogam e não buscam sua humanização, o caráter humanista educacional freireano, centraliza seus esforços na desmitificação do mundo e da realidade, em que os homens não são coisas, objetos, mas pessoas que podem transformar o mundo.

Dia do Educador Ambiental - 15 de outubro

Enfim, a educação tem sido chamada para solucionar problemas de todos os níveis, sejam eles sociais, ambientais, político-pedagógicos, filosóficos, como sendo a grande redentora da sociedade, e, por isso, é também tema das mais acaloradas discussões na atualidade. Se a educação não está bem, a sociedade também não está. Arriscar compreender a educação demanda um mínimo de entendimento sobre seus padrões concebidos, bem como as idealizações que se tem a partir destes.

E essa tal Educação Ambiental?

A Educação Ambiental, como é entendida hoje, surgiu da necessidade de despertar as pessoas para os problemas causados pelos modelos de desenvolvimento econômico, os quais afetam direta ou indiretamente a qualidade de vida das populações. A aceleração da degradação do ambiente, pelo uso exagerado e inadequado dos recursos naturais, mostrou que nem todos se preocupam com a qualidade de vida e com as próximas gerações.

Entretanto, encontram-se ao longo de toda a história do homem algumas reflexões que demonstram a preocupação em preservar a natureza, não só por respeito, mas também como um alerta para a nossa dependência dos recursos que ela oferece.

Essas observações tornaram-se mais sistemáticas a partir do salto tecnológico das últimas décadas e do crescimento da população humana. A exploração desordenada e inconsequente de nossos recursos naturais vem interferindo drasticamente nos ciclos biológicos, acabando por influenciar a vida e o comportamento das pessoas.

Mauro Guimarães, em sua obra ‘A Formação de Educadores Ambientais’ (2004), enfaticamente explicita que entende a educação como um potencial motor das dinâmicas do sistema social, notadamente como um instrumento de luta que põe em conflito as forças sociais que desejam reproduzir a sociedade e as forças sociais que desejam transformar a sociedade. E alerta ainda, que a educação ambiental não pode mais continuar sendo considerada como algo à parte da dinâmica social, sob o risco de ocorrerem ações educativas pouco críticas da realidade, mesmo que bem-intencionadas, resultando em posturas politicamente conservadoras.

O Congresso de Belgrado, promovido pela União das Nações Unidas para a Educação (UNESCO) em 1975, definiu a Educação Ambiental como sendo um processo que visa:

[...] formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe permita trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais e impedir que se repitam (SEARA FILHO, G. 1987).

No Capítulo 36 da Agenda 21, a Educação Ambiental é definida como o processo que busca:

[...] desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos (BRASIL, 1996).

Existem ainda diversas formas de se definir a Educação Ambiental. Dentre essas, destacam-se as definições levantadas por Donella Meadows (1994), por solicitação da Unesco e publicados em 1989:

é a preparação de pessoas para sua vida enquanto membros da biosfera;

é o aprendizado para compreender, apreciar, saber lidar e manter os sistemas ambientais na sua totalidade;

é a aprendizagem de como gerenciar e melhorar as relações entre a sociedade humana e o ambiente, de modo integrado e sustentável;

significa aprender a empregar novas tecnologias, aumentar a produtividade, evitar desastres ambientais, minorar os danos existentes, conhecer e utilizar novas oportunidades e tomar decisões acertadas (PORTO, 1996, p. 25).

A Lei Federal nº 9.795 define a Educação Ambiental como: “o processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (art.1º, Lei Federal nº 9.795, de 27/4/99)

Para a Unesco:

Educação ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros. (UNESCO, 1987).

Nesse sentido, a abordagem holística, preconizada pela Agenda 21 e pelo Programa Nacional de Educação Ambiental, mostra-se fundamental, como forma de evitar que os indivíduos e a sociedade tenham uma percepção e uma relação fragmentada com o meio ambiente. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva mais sistêmica de ação, que relacione a natureza, o homem e o universo, diferentemente da perspectiva naturalista e/ou cartesiana, em que o homem percebe uma natureza representada somente pelos elementos naturais, a fauna, a flora, a água, o ar, os solos (NORONHA, 2005).

Salienta-se que o método cartesiano foi muito útil para propor soluções para problemas encontrados numa sociedade diferente da atual, na qual a preocupação estava muito mais voltada para a redução de fenômenos complexos a componentes básicos. No entanto, no mundo contemporâneo, o que se percebe é uma necessidade muito grande de inter-relação e interdependência nos diversos setores e áreas da vida.

Finalmente, a Educação Ambiental deve ser, acima de tudo, um ato político voltado para a transformação social. Formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis: formal e não-formal, é o grande desafio do Educador Ambiental.

Qual Educador Ambiental?

Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa) e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes.

É necessário que o educador ambiental tenha uma atenção constante para inserir em suas ações, uma percepção crítica do processo educativo, fazendo parte de um organismo vivo e em expansão, e, ao mesmo tempo, estar conectado com o mundo do trabalho, com as organizações políticas e culturais mais avançadas que o seu grupo social desenvolve para dirigir a sociedade.

Guimarães (2004) acredita que o Educador Ambiental, como uma liderança que pretende contribuir para a superação dos problemas ambientais, não se contenta em promover ações pontuais, de caráter meramente informativo, como podem ser tratados os colóquios, as palestras, as capacitações, as exposições, as campanhas.

Esse processo educativo “[...] tem que ser potencializador, gerador de movimento, impulsionando o processo de transformação social. Um trabalho processual não é um sequenciamento de intervenções pontuais, principalmente quando estas se dão com a função exclusiva de informar” (GUIMARÃES, 2004, p. 139).

A metáfora da correnteza de um rio, mencionada por Guimarães (2004, p. 139), fala que “[...] se não houver, de nossa parte, um esforço para mudarmos de rumo, seremos empurrados e seguiremos na direção da correnteza” nos ajuda a reforçar o pensamento de que deve haver um esforço do educador ambiental no sentido de superar a inércia e não seguir um ‘caminho único’ da sociedade moderna, moldado pelos paradigmas dominantes. Ao educador ambiental cabe inserir-se na contra-correnteza dentro do movimento do rio, para criar como resultante uma nova dinâmica que poderá alterar o curso desse rio.

O educador ambiental que supera essa proposição busca, na compreensão da realidade socioambiental, na percepção do que movimenta a comunidade/sociedade, encontrar os caminhos de intervir. Intervenção para transformação da sociedade que, em sua intencionalidade, provoque movimentos de problematização, questionamentos e práticas de transformações de valores, hábitos e atitudes, individuais e coletivos, de forma que sejam inseridos no cotidiano daqueles (indivíduos em comunidade) que estão sofrendo a intervenção do processo educativo (GUIMARÃES, 2004, p. 139).

Cabe ao Educador Ambiental uma visão crítica que seja voltada para a transformação da sociedade, de seus modelos mentais, hábitos e valores, além das atitudes. Tais transformações podem se dar de forma expressiva, através da sinergia, em um movimento coletivo de intervenção, pois, sinergia significa, literalmente, trabalho conjunto. É o efeito multiplicador das partes de um sistema que alavanca o seu resultado global.

Segundo Lins (2003) é na natureza, onde a sinergia é freqüente e espontânea, que se encontram os melhores exemplos de efeitos sinérgicos, seja no ar que se respira, na água que se bebe, ou no sal que está presente nos mares.

Ao Educador Ambiental, como para qualquer outro Educador, faz-se necessário também, o exercício contínuo dos aprenderes, propostos pela Unesco:

[...] aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. (DELORS, 1998, p. 89-90).

O que mais se demanda de um Educador Ambiental é a capacidade de “aprender a aprender fazer”, de se comunicar com as comunidades envolvidas, de ter iniciativa, de inovar, trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito cooperativo, de humildade, criatividade, determinação, ter intuição, saber resolver conflitos e ser flexível, ter entusiasmo com o que faz, e, acima de tudo, coragem para assumir uma certa dose de risco.

Para Morin (2001), o primeiro pilar “conhecer a conhecer” corresponde ao “conhecimento do conhecimento”, que constitui um dos “sete saberes” necessários à educação do futuro: conhecer o que é pertinente, aprender o global, o complexo, o contexto, relacionar o todo com as partes.

Segundo Morin (2001), o novo paradigma é a Terra, vista como uma única comunidade. É necessário educar para remover os obstáculos à compreensão humana, combatendo o egocentrismo, o etnocentrismo e o sociocentrismo, o antropocentrismo, que procuram colocar em posição subalterna questões relevantes para a vida das pessoas, da sociedade e do ambiente.

Mas será que todos aqueles que se propõem fazer educação ambiental comungam de um ideário ambiental comum?

A observação das diversas práticas ambientais atuais leva-nos a perceber um universo muito heterogêneo, no qual há uma grande variação das intencionalidades acerca do que seja a mudança ambiental desejada.

CONCLUSÃO

O ‘ser ecológico’ em detrimento do ‘ter econômico’, a valorização da paz e do espírito que faz com que a maioria da humanidade consiga perceber a importância de outros valores, permitindose fazer uma relação do seu equilíbrio e bem-estar ao equilíbrio do todo e se transformar, então, em um cidadão comprometido com o mundo que o rodeia.

Estas reflexões nos levam a pensar quão grande é a transformação necessária à educação e aos educadores ambientais de hoje ou nossos ‘mestres ecológicos do amanhã’. A sociedade precisa trabalhar urgentemente pela melhoria da educação de forma mais efetiva, formando cidadãos que possam, além de organizar o conhecimento, analisar o mundo a sua volta de forma crítica e, assim, ajudar a re-construir um planeta mais justo, mais sustentável e mais solidário.

-SEARA FILHO, G. Apontamentos de introdução à educação ambiental
Revista Ambiental, a. 1, v. 1, p. 40-44, 1987.

Para receber atualizações das matérias:
Digite seu e-mail:


FeedBurner
Você receberá um e-mail de confirmação, é só seguir o link e confirmar.


Topo